terça-feira, 17 de junho de 2014

As fitas K7


Escutei no Fronteiras da Ciência (podcast da rádio UFRGS) que as pequenas tecnologias mudam o mundo, uma dessas é a fita K7.

Inventada em 1963 pela holandesa Phillips, fez a indústria fonográfica tremer pela primeira vez, ajudou a derrubar o muro de Berlim e mudou o jeito que escutamos música.

A qualidade não era grande coisa, nem o preço. Se pensar em termos de reais por tempo de áudio, era bem caro para os padrões atuais. Um pen drive simples de 4 gb é capaz de reproduzir 50 horas (na média), com um custo de 20 reais (estou colocando o valor de um kingstom ou sandisk), isto dá 40 centavos por hora de música.  Nada mal. Um  fita boa, (nada de Basf!) custava uns 2 reais, (Comprar caixa fechada de fita k7 na 25 de março era quase uma arte). o que dá 2 reais por hora. 5x mais caro que hoje em dia. É claro, estamos falando da economia dos anos 90, 2 reais dava pra ir e voltar de trem.

Nos anos 70 a Sony inventou o walkman, era música para uma pessoa só, música se de escutar na rua, por uma hora no máximo (malditos comedores de pilha!), não estávamos mais presos ao ambiente, podíamos ficar no mundinho particular. Para a molecada o poder escutar música em qualquer lugar é banal, é cotidiano, para a minha geração foi um ganho, e implicava em muito dinheiro. Alimentar um walkman custava caro. Na época da faculdade de Psicologia, eu viajava, aproximadamente, 4 horas de ônibus por dia, meu consumo de pilhas era de 3 a 4 pacotinhos de 4 pilhas por semana. (Desculpem ambientalistas).

por muitos anos o grosso da minha discografia eram fitas k7 copiadas de discos e cds. Um dia percebi que não tinham mais utilidade, guardei duas. Uma demo dos Us Gury e uma original do inimigos do Rei. O que interessava do resto todo foi download no piratebay. (ambientalistas, desculpe de novo)

Outra coisa que é fruto da fita k7 é o Hip-hop. Sem as fitas k7 e sem as boom box duplo deck não teria como gravar as bases, sem bases, sem hip-hop. Eu vi uma entrevista do Run DMC dizendo isso.


 

E como levar o rock para os países comunistas? Fitas k7 levaram Looking For Freemdom para a Alemanha Oriental, levaram Deep Purple para a União Soviética (entre tantas outras.) Sem essas fitas não teria Tang Dynasty (A primeira banda de heavy metal da China). Vamos dizer que não teria uma porrada de coisas.



Outra coisa, e essa deixa saudade mesmo, é a mixtape. Aquela gravação que as pessoas faziam das músicas preferidas. Gravavam para um escutar em viagens, gravavam para tirar músicas, gravavam para festa, e o mais importante, gravavam para dar de presente.

Fazer uma mixtape para alguém era uma grande responsabilidade, tanto que tem até um filme com John Cusack  sobre isso. Alta fidelidade(High Fidelity, 2000). Podiam ter mixtape de despedidas, mixtape de declaração (de amor, amizade, ou qualquer coisa que o valha). Depois da fita entregue era só esperar. Podiam levar dias até ter uma resposta, ou até mais. E a resposta podia não ser a que se esperava. Como ter a fita devolvida e escutar da garota: Não escutei, não é o tipo de coisa que eu gosto. (claro, não tinha haver com as músicas gravadas ali).

Sinto por essa geração que nunca gravará uma mixtape. Não é a mesma coisa que gravar um cd, CD é fácil, baixar música é fácil, na pior das hipóteses se acaba em uma hora (quando muito). Uma mix tape levava um dia de trabalho pra mais. Sentava-se na sala (ou  quarto), espalhava-se discos e fitas pelo chão) E  uns 2 cds, (cds custavam uma fortuna). Olhava-se as capas, escutava-se as músicas, achava os pontos nas fitas k7. Aí começavam as contas, que música que ia aonde, qual a melhor ordem pra não cortar uma música na metade. (gravar uma mixtape pra alguém e deixar uma música cortada no final da fita era como entregar um cartão rasurado). Trabalho feito, escrevia-se no papel da caixinha, isso também tinha que ser pensado. Apenas o nome das músicas, uma declaração, ou o clássico e elegante "para fulano". Depois era esperar.

A fita k7 se foi, raro achar uma virgem (média de 10 reais cada). E mais difícil achar o que fazer com ela, ou onde toca-la. Deixa saudades. Os produtos com cara de fita k7 são inúmeros. De almofadas, capinhas de celular e quadros. Foi-se do uso para entrar para a cultura pop.

Links:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fita_cassete
http://olhardigital.uol.com.br/noticia/37542/37542
http://www.mci.org.br/comofunciona/cassete.html
http://www.dw.de/meio-s%C3%A9culo-depois-de-lan%C3%A7ada-fita-cassete-ainda-re%C3%BAne-f%C3%A3s-mundo-afora/a-17023434 ótima matéria
http://super.abril.com.br/tecnologia/velha-fita-ainda-tem-magnetismo-441062.shtml Super Interessante de 1994, fazendo previsões, bem interessante.
http://aninhamusicadance.blogspot.com.br/2012/07/historia-das-queridas-fitas-cassete-k7.html
http://whiplash.net/materias/opinioes/170431.html

Um comentário:

  1. Belíssima Matéria trazendo de volta tudo aquilo vivido nessa época. Uma Nostalgia avassaladora veio em minha mente e em meu coração relembrando tudo isso. Bons tempos que serão guardados eternamente em minha memória. Obrigado pela matéria.

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