terça-feira, 2 de abril de 2013

O mito da caverna, o ensino de ciência e o culto à carga.

 

            O mito da caverna, já conhecido de todos nós e tantas vezes representado, incluindo uma versão de Maurício de Souza Estúdio de Quadrinhos (que serve de inspiração para este trabalho). Na versão em quadrinhos temos 3 senhores que não conhecem a realidade, mas acreditam piamente conhece-la. Quando é apresentado aos senhores a verdade julgam-na mentirosa, depois dolorosa e por ultimo a aceitam. Na versão em quadrinhos o papel de guia para fora da caverna coube ao Piteco, na Grécia antiga o liberto era o filósofo e na educação formal este papel deveria caber ao professor.

            Na educação nos deparamos com um guia, o professor, que muitas vezes trocam as sombras que os guiados, alunos, acreditam ser a verdade para mais sombras. Novas e diferentes sombras, até mais enfeitadas e sofisticadas, mas mesmo assim sombras.

            O astrônomo Carl Sagan em seu livro, O mundo assombrado pelos demônios, aponta que o ensino de ciência, muitas vezes, não é a aprendizagem científica, mas sim um sistema de crenças. Simplificando o conceito científico para caber no currículo escolar acaba-se por cortar sua essência, seu motivo de existir e o caminho para a determinada conclusão. É cortado todo o processo, sobrando apenas resultado. Um exemplo é uma fórmula de física que o aluno aplica mecanicamente para chegar a resultados sem nenhum motivo. Apenas uma fórmula decorada, uma “coisa” que disseram ser a realidade. A ciência volta ao mito, Não é uma questão de saber, de pensar e mensurar, de julgar o mundo com uso de ferramentas. É apenas um sistema de crença, a crença que uma fórmula decorada é a aceleração. Sagan aponta o perigo de formar um crédulo, que acreditará em qualquer coisa que lhe digam com autoridade e pintada de cores científicas. Confunde-se a causa com o efeito.

            A mesma confusão entre a causa e efeito, isto é, a incompreensão de um mundo cada vez mais complexo aconteceu com habitantes de ilhas do pacífico durante a Segunda Grande Guerra. A terceira lei de Clarke: Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia, aplica-se nesse caso. Os nativos de ilhas do Pacifico, em um modo de vida tribal e praticamente, em níveis tecnológicos, do neolítico quando em contado com os aviões rádios, equipamentos, e principalmente, cargueiros que despejavam itens do céu, passam a imitar os soldados para que os deuses agraciem a sua tribo com essa benção. Basicamente construir aviões de madeira esperando que caia coca cola do céu. A esse fenômeno é dado o nome de culto à carga.

            Com a educação voltada para trocar as pessoas de cavernas, e não tirá-las, uma pequena parcela da população acaba recebendo o privilégio de aprender a pensar além do senso comum. Essa parcela não necessariamente significa universitários, quem convive com professores percebe que muitos deles continuam em suas cavernas, mesmo depois de faculdades e pós-graduações. As informações estão aí, ainda mais com a internet, mas de dentro da caverna não se aprende a usar, a procurar e pensar essa informação. Sendo assim, um artigo científico não é diferenciado de um “acho que”.

            Caminhamos para essa confusão, mantida as devidas proporções, somos usuários de tecnologia, mas não temos ideia de como ela funciona, atribuímos vontade aos computadores e celulares, um mundo complexo visto por gente não preparada para tal, o mais estranho disso é um mundo visto erroneamente, não pelo de fora, como os nativos das ilhas do pacífico, mas sim um mundo estranho aos moradores contemporâneos.

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