O mito da caverna, já conhecido de todos nós e tantas
vezes representado, incluindo uma versão de Maurício de Souza Estúdio de
Quadrinhos (que serve de inspiração para este trabalho). Na versão em
quadrinhos temos 3 senhores que não conhecem a realidade, mas acreditam piamente
conhece-la. Quando é apresentado aos senhores a verdade julgam-na mentirosa,
depois dolorosa e por ultimo a aceitam. Na versão em quadrinhos o papel de guia
para fora da caverna coube ao Piteco, na Grécia antiga o liberto era o filósofo
e na educação formal este papel deveria caber ao professor.
Na educação nos deparamos com um guia, o professor, que
muitas vezes trocam as sombras que os guiados, alunos, acreditam ser a verdade
para mais sombras. Novas e diferentes sombras, até mais enfeitadas e
sofisticadas, mas mesmo assim sombras.
O astrônomo Carl Sagan em seu livro, O mundo assombrado
pelos demônios, aponta que o ensino de ciência, muitas vezes, não é a
aprendizagem científica, mas sim um sistema de crenças. Simplificando o
conceito científico para caber no currículo escolar acaba-se por cortar sua
essência, seu motivo de existir e o caminho para a determinada conclusão. É
cortado todo o processo, sobrando apenas resultado. Um exemplo é uma fórmula de
física que o aluno aplica mecanicamente para chegar a resultados sem nenhum
motivo. Apenas uma fórmula decorada, uma “coisa” que disseram ser a realidade.
A ciência volta ao mito, Não é uma questão de saber, de pensar e mensurar, de
julgar o mundo com uso de ferramentas. É apenas um sistema de crença, a crença
que uma fórmula decorada é a aceleração. Sagan aponta o perigo de formar um
crédulo, que acreditará em qualquer coisa que lhe digam com autoridade e
pintada de cores científicas. Confunde-se a causa com o efeito.
A mesma confusão entre a causa e efeito, isto é, a incompreensão
de um mundo cada vez mais complexo aconteceu com habitantes de ilhas do
pacífico durante a Segunda Grande Guerra. A terceira lei de Clarke: Qualquer tecnologia suficientemente
avançada é indistinguível de magia, aplica-se nesse caso. Os nativos de ilhas
do Pacifico, em um modo de vida tribal e praticamente, em níveis tecnológicos,
do neolítico quando em contado com os aviões rádios, equipamentos, e principalmente,
cargueiros que despejavam itens do céu, passam a imitar os soldados para que os
deuses agraciem a sua tribo com essa benção. Basicamente construir aviões de
madeira esperando que caia coca cola do céu. A esse fenômeno é dado o nome de
culto à carga.
Com a educação voltada para trocar as
pessoas de cavernas, e não tirá-las, uma pequena parcela da população acaba
recebendo o privilégio de aprender a pensar além do senso comum. Essa parcela
não necessariamente significa universitários, quem convive com professores
percebe que muitos deles continuam em suas cavernas, mesmo depois de faculdades
e pós-graduações. As informações estão aí, ainda mais com a internet, mas de
dentro da caverna não se aprende a usar, a procurar e pensar essa informação.
Sendo assim, um artigo científico não é diferenciado de um “acho que”.
Caminhamos para essa confusão,
mantida as devidas proporções, somos usuários de tecnologia, mas não temos ideia
de como ela funciona, atribuímos vontade aos computadores e celulares, um mundo
complexo visto por gente não preparada para tal, o mais estranho disso é um
mundo visto erroneamente, não pelo de fora, como os nativos das ilhas do
pacífico, mas sim um mundo estranho aos moradores contemporâneos.